Sobre o caso da mulher que espancou um cachorro até a morte

Não podemos condenar um indivíduo se não tivermos em vista a moral que acompanha nossos supostos julgamentos.

A velocidade que um caso isolado se espalha para uma parcela da sociedade brasileira (a que possui internet e participa de redes sociais) é realmente estrondosa. Assim como é a incapacidade de se fazer questionamentos e reflexões em frente ao turbilhão de notícias. É o caso de muita informação e pouco conhecimento. Nada é absorvido plenamente, beira apenas consumo vazio esse “saber” e o espalhar dos fatos. Tendo isso em vista (ainda que um assunto complexo para outro momento), deixo aqui um pequeno posicionamento objetivo como militante dos direitos e libertação dos animais.

O vídeo assusta pela frieza tanto de quem comete o ato, como de quem o filma sem ter reações ativas no momento. O que isso realmente significa? Que temos um caso de uma pessoa ignorante (e dezenas de outros adjetivos) cometendo uma atrocidade que condenamos? Sim e Não. Para quem tem esclarecido que a violência não justificada é um ato condenável e não se deve restringir essa premissa à espécie humana e sim colocá-la em questões éticas abrangentes à vida em geral, Sim. Foi um ato cruel. E Não, porque isso não é um caso, isso é uma repetição do que ocorre em outros lares e lugares (matadouros, circos e laboratórios) todos os dias. E essa repetição é aceitável? Logicamente a resposta seria NÃO.

Seria, pois as pessoas que enxergam a violência com um cachorro inaceitável, enxergam outra espécie com as mesmas características biológicas de sentir dor, medo, angústia, etc como… seres inanimados? sinceramente não tenho vontade nem de fazer esse caminho inverso do pensamento, por ora, vamos dizer que se trata ainda de uma controvérsia cultural e da continuidade do pensamento especista enraizado. O que importa em casos extremos que despertam interesse dos diferentes tipos de mídia e acabam sendo populares é a nossa posição ética vegana de não tratar atos como casos isolados e distantes do que se passa nos pratos desses que agora se dizem indignados. Claro, a história se repete, não nos enganemos que isso é novo e que isso acaba em seguida com resultados positivos. Esses casos podem servir para um simbolismo na busca de justiça aos nossos irmãos, mas não podem servir como condenação do fim em si mesmo.

Em outras palavras, a tal enfermeira, esposa de um médico, que espancou e asfixiou um yorkshire na frente de uma criança de aproximadamente três anos é condenável, assim como o é o que se passa por milhões de animais todos os dias, simples assim. Não acho correto a divulgação da vida inteira e de todos os dados dessa infeliz, pois tratar violência com (e tá na cara o que pode acontecer) com mais violência do mesmo tipo, essa que não tem um fundo ideológico questionador, ou seja, que acaba pela bárbarie sem reflexões posteriores é um erro que temos a chance de não levar para frente.

Não existem justificativas para nenhum caso cometido por um ser humano contra um animal que leve em conta somente os interesses do agressor (do experimentador ou do comedor, como preferir). Todos os animais têm direito à vida.

 
Uma das melhores explicações para o termo “especista”. Clique aqui.

26 Responses to Sobre o caso da mulher que espancou um cachorro até a morte

  1. ELISANGELA disse:

    QUE ÓDIO VIU! ESTOU CHORANDO AINDA PORQUE INFELIZMENTE EU NÃO ESTAVA NO MESMO LOCAL ONDE ESSA INFELIZ E DESGRAÇADA TORTUROU E MATOU ESSE INDEFESO E FRAGIL ANIMALZINHO QUE NOS PEDI EM TROCA SO UM POUCO DE AMOR E CARINHO E QUE NÃO TEVE A MENOR CHANCE DE DEFESA. ESSA REPITO DESGRAÇADA DEVERIA TER FEITO ISSO COM UM PITBUUL ( OU COMIGO ) PORQUE AI SIM ELA TERIA A RESPOSTA A ALTURA DO SEU TRISTE ATO. SE EU ENCONTRAR ESSA MULHER COM CERTEZA VOU ESPANCA-LA, SO NÃO VOU MATA-LA… PORQUE SERIA POUCO PRA ELA. ESPERO SINCERAMENTE QUE ALGUÉM FAÇA ALGUMA COISA A RESPEITO PORQUE SE ELA FEZ ISSO COM UM CACHORRINHO QUE SO NOS DA ALEGRIA…OQUE ELA FARÁ COM ESSA CRIANÇA QUANDO COM UM SIMPLES ATO DE FAZER UMA PEQUENA ARTE VIER A IRRITA-LA ?

  2. Mandy disse:

    Eu acho realmente que o pensamento de “tem tanta coisa no mundo acontecendo e as pessoas não se importam tanto quanto a esses “virais””, é falho. 1 é melhor que zero, antes essa mulher poderia passas despercebida, como acontece com milhares de manifestações violentas no mundo, mas não passou. Ponto pra internet, tecnologia e redes sociais. O caso da omissão daquele que está gravando, acho que não da pra ter noção, pode ser uma empregada, pode ser uma enteada… que se sente ameaçada pela intervenção, isso é indiscutível sem mais informações. Mas o que penso é que esse medo das redes sociais pode vir a ser uma repressão para aqueles que praticam qq tipo de violência. Penso: “Será que isso vai virar uma forma de fiscalização civil?”, aquele que for cometer um crime vai se preocupar com o celular com câmera? As câmeras de segurança da rua? Ele vai ter medo de cair na rede, via um blogueiro famoso? Essa é a lei dos homens 2.0.

  3. tchago disse:

    “SO NÃO VOU MATA-LA… PORQUE SERIA POUCO PRA ELA”

    AFE, QUE DRAMA, ELISANGELA.
    Vai defender criança de pai que bate, então. Vai ser ativista dos direitos humanos, meu. Não fica aí chorando e cultivando esse ódio todo.

    Essa revolta toda é falta de TERAPIA: TER-A-PIA cheia de louça pra lavar.

    É muita hipocrisia defender o direito dos animais e comer frango, peixe, boi, etc. Sem nem fazer referência à crueldade — porque seria mais hipocrisia ainda defender que os animais que comemos não devem ser maltratados, apenas mortos, limpos, embalados e trazidos à mesa após o preparo — mas as pessoas se dóem mais quando vêem um animal sendo maltratado do que quando mostram famílias no nordeste passando fome, pais no rj batendo em filhos, crianças sem ter o que comer, pessoas discriminadas por raça, cor ou credo.

    No país do futebol, amigo, é mais fácil reclamar do cachorro que apanhou de graça do que tomar frente de alguma coisa que tente fazer a diferença, e continuar omisso, como muitos que espalham o ódio descomedido pra cima da enfermeira cruel.

  4. Junior disse:

    Sinto muito, mas o que exite é uma crueldade, e não o fato de matar para comer, ( a maior parte dos veganos, isso inclui vc! é que tem uma posição extremamente radical 8 ou 80) não concordo com matadouro, circos e afins, é isso está literalmente acabando de um jeito ou outro, mas isso foi de crueldade, dos 2 lados de quem fez e quem filmou e não fez nada, mas nossa sociedade é está, aceitamos muitos abusos e não fazemos nada além de reclamar, o ato é perdido e esquecido em poucos dias, pois o cotidiano está em todos os lares e lugares, e não podemos admitr é que ficamos aborrecidos, mas acomodamos com isso, gera audiência, mas pouquíssimo resultado, é igual ao ato de deixar seu filho ou quem seja jogar lixo na rua, sendo que exite lixeira, mas poucos veem e usam-la.Esse fato como vc disse, já ocerrou e ocorrá inúmeras vezes, o que podemos fazer é ajudar que não ocorra, não vire audiência, todos temos direito a vida, não importa a espécie.

    • 10segundos disse:

      Certo Junior, a crueldade desse ato está na cara, nem precisa ser sublinhada. A posição é “radical” pois chegamos num estágio de criação e holocausto em massa que exige uma posição forte e definida. Radical pode ser entendido de outra forma, mas aí é uma discussão do uso do termo.

      E também concordo contigo que não vire somente “audiência”. Vivemos um tempo é que a espetacularização das notícias é mais importante que a reflexão das mesmas. É preciso combater isso.

  5. Gustavo Paiva disse:

    Entendo sua ideologia, acho ridículo ver gente com pena de gatinho morto, de cachorrinho morto, etc.. e no mesmo dia devora um prato cheio de carne.

    Mas tu quer defender tua ideologia com esse exemplo? Isso é ridículo! Comparar um cachorro doméstico, que tem um sentimento por seu dono, que brinca com seu filho, com um ser que só sabe comer capim e cagar?! Eu sei que todos temos direito a vida bla bla.. você acha injusto o que fazem com as vaquinhas e enchem o cú de soja, pô, coitada das plantinhas cara, elas são seres vivos. pffff

    Humano é animal, se alimenta de presas mais fracas, companheiro de animais que são fiéis por toda vida (lobos, cachorros, cavalos.. etc), usam plantas para fins medicinais ou construção e etc. Isso acontece a milhares de anos.. ai TU com pena de vaquinha quer mudar o ser humano?

    Cala tua boca, sei que é exagera o consumo de carne, sei que é injusto essa economia bizarra que valoriza mais o $$ do que QUALQUER COISA.. mas querer que humano aja (do verbo agir) como um deus, totalmente correto e justo, sem colocar um pedaço de carne na boca. Isso é loucura, essa modinha Vegan é passageira.

    • 10segundos disse:

      Gustavo,

      Também espero que a “modinha vegan” (se voce se refere à produtos do mercado ganhando consumidores, etc) seja passageira e aí fiquemos com a verdadeira noção do que é respeitar um outro ser vivo e mudar nossos paradigmas de alimentação e vivências. A libertação animal também sugere novas relações de humanos para humanos.

      Quanto aos outros argumentos, sugiro que assista o link que deixei no final (e procure outros blogs que tem conteudos direcionados à questões de “presas naturais e desmitificação do papel humano”, “sistema nervoso dos animais” (não comparados à plantas) etc. Acho que explica muito melhor do que eu poderia fazer em algumas linhas. Ainda mais levando em conta que talvez voce não esteja disposto, mas quando estiver, tá aí a dica.

  6. Jimmy Palhano disse:

    Matéria Perfeita para a ocasião…
    Em minha rede de conhecidos e amigos do Facebook, teve uma discussão muito grande sobre isso, não concordo com essa compartilhamento descontrolado e sem pensar, todos sabem que o caso é triste, porém, seu post diz tudo que eu queria dizer, e “briguei” no Facebook com o pessoal..
    Resultado? deletei mais de 100 pessoas no facebook que disseram horrores sobre o caso e sobre a discussão
    Vamos sim compartilhar, mas coisas boas, e vamos fazer com as mãos na realidade a diferença, não na ficção.

    • 10segundos disse:

      oi Jimmy,

      Obrigado pelos elogios, fico feliz que tenha contribuido com algo. :)
      Mais de 100 pessoas? hahah. A briga foi feia mesmo.

      Mas o importante é realmente nos focarmos não nessa explosão de informação e sim na reflexão que ela pode gerar, no combate à hipocrisia e no amadurecimento do nosso tratamento com os animais.

  7. Brendha disse:

    Veeí Essa coisa ,não é pessoa tinha que morrer na cadeia…Ou então coloca-lá frente a Frente com 4 pit bul’s só pra ver o estrago, que ela fez com o cachorrinho endefeso tem que pagar por isso
    Pessoa tem de tudo e muito mais,pra que fez isso?Se não quer um cachorro pra que pegou?Deus tenha misericordia dessa pessoa , na verdade pra mim não é pessoa é pior do que um animal….
    Aaiaiaia Cadeiia nela

  8. luciana disse:

    disse tudo! palavras contundentes da realidade diária de milhões de especies, quem sabe um dia isso acabe, sinceramente acho q não, mais mantenho a fé. Não como carne!!!

  9. Fabiane disse:

    Eu fico assustada com a reação das pessoas… Elas não percebem a incoerência que é querer ensinar alguém que violência é errado praticando violência contra quem praticou violência. Mas entendo que, numa sociedade anestesiadora, as pessoas explodam perante alguns extremos. Extremos que colocam o dedo na ferida, que explicitam o quanto nossa sociedade está doente! E aí isso gera reações emocionais (geralmente incoerentes e desproporcionais, porque carregam um longo histórico de engolir seco, aprender a não se importar etc.) em cima de um bode expiatório. Quer dizer, se conseguimos punir uma situação extrema, nossos pecados estão expurgados e a sociedade está salva…

    O especismo é um exemplo desses descasos aprendidos. Por que aprendido? Ora, isso fica muito claro quando uma criança descobre que o lanche feliz dela é feito a partir da morte daquele bichinho amigável que ela viu no sítio ou no Cocoricó (haha). E aí começamos a aprender a dissociar as coisas (que são as mesmas)… Fica claro também quando pensamos que outras culturas se alimentam de cachorros, por exemplo. Imagino um chinês vendo toda comoção brasileira perante esse caso e se perguntando qual é o problema, visto que o mesmo é feito com outros animais que estão na mesa do nosso povo diariamente…

    Chéri, admiro muito a forma como você consegue abordar esse tipo de assunto, equilibrada, reflexiva e abrangendo alguns (se não todos) dos pontos mais relevantes da questão.

    :-**

    • 10segundos disse:

      oi Fabiane,

      Realmente só de pensar como um chinês acostumado com o tratamento aos cachorros que existem (em algumas regiões da China) olharia para essa comoção toda. Bem lembrado.

      E obrigado. Mas todo mundo sabe que criar um texto aqui em frente ao que vimos é só uma pequena resposta tímida e pouco significante. Mas também representa que não devemos nos calar, talvez esse seja o ponto.

  10. Fabiane disse:

    Acrescentaria ainda que essa grande reação de ódio é uma coisa catártica e ajuda a manter a sociedade como está, devido ao que expus no primeiro parágrafo do comentário anterior. Acho que “O mal-estar na cultura” do Freud explica…

  11. aline disse:

    Por favor né Tchago! Se preocupa tanto com as familias do nordeste, pais batendo em filhos, crianças sem ter o que comer?…então vá a luta, faça algo por eles, cada um faz a sua parte ajudando quem acha que merece e da maneira que pode…as pessoas não tem que se preocupar só com uma coisa só, cada um ajuda uma parte, eu por exemplo escolho ajudar os animais, pois na minha opinião eles sofrem mais, ele não podem defender a si mesmos e nem podem correr atrás das coisas pra eles mesmos, ao contrário das pessoas, mas por outro lado acho lindo quando vejo pessoas ajudando umas as outras tbm, acho que a solidáriedade é bem vinda em todas as partes; E a vida de um animal não é menos importante que a vida de uma pessoa, tanto um como o outro sente dor, alegria, fome, frio, amor…então por que subestimarmos esses seres??? por que a maioria acha que os humanos são superiores??? como pode seres superiores fazerem tanta maldade?? criar bombas, armas, matar?….sinceramente, me envergonho da minha espécie.

  12. k disse:

    DIFERENTE É MATAR PRA COMER DO QUE MATAR POR PRAZER.
    O humano assim como os próprios animais tem o ‘direito natural’ (como preferir) de comer qualquer coisa viva, desde que não ponha em risco a existência da espécie, causando desequilíbrio na cadeia.
    Assim como os leões comem zebras nós comemos vacas e galinhas sem medo do perigo.E quem é vegetariano come o arroz e as folha que ta viva também.
    Ela poderia simplesmente ter vendido o cachorro (oque seria ótimo pois essa raça não é barata) ou doado algo assim.

  13. Valéria Santos de Menezes disse:

    Texto bem colocado!Pois é, pra muita gente é mais fácil seguir o ditado: o que olhos não veem o coração não sente!

  14. Diego Ramires disse:

    Vinicius,

    gostei do texto. Coeso, sucinto e direto. Mas assim como as manifestações contra a enfermeira não deveriam ganhar destaque, as manifestações contra os que se manifestam contra deveriam ser vistas como sublimação, introjeção do superego alheio. Os veganos têm que saber discernir aquele que é o último na cadeia consumidora da indústria que produz. Muitos que comem não tem coragem para matar. A manifestação contra a morte do cachorro é um ato válido do meu ponto de vista: mostra que ainda temos a capacidade de se indignar.

    • 10segundos disse:

      oi Diego,

      Tens razão. Na verdade até me surpreendi do texto (talvez) ter deixado essa impressão do “superego alheio”, pois sempre tento cuidar para não deixar essa impressão do “extra terrestre” no assunto. É preciso estar ciente de como a cultura e o espírito da época produz as manifestações populares. É válida sua crítica, obrigado.

      Assim como é válida a manifestação contra um ato bárbaro, mas o objetivo foi tentar focar ou direcionar a indignação para um outro proveito, que é o da reflexão futura para casos semelhantes.

  15. Lucas disse:

    O que acontece na ilha, ficava na ” ilha “, agora vai para o FACEBOOK!!!……

  16. Rose Mariah disse:

    Com certeza seu texto é mais infinito que o céu e, infelizmente, mais incompreensível aos “humanos” que a própria existência. Quando tentamos achar a explicação para tanta insensatez, descobrimos que ela data da pré-história. Talvez as próximas gerações compreendam que o ato de matar não está ligado somente a crimes como este, no caso da enfermeira. Por enquanto viremos nós assim, entre palavras e esperanças que a evolução humana ultrapasse as manchetes dos jornais!! PARABÉNS pelo blog! Abraço Rose Mariah, ambientalista.

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