Higienização, jogo sujo e assassinato.

17 de junho de 2012
Envenenados, enforcados, queimados vivos ou mortos a tiro. Calcula-se que mais de 60.000 cães de rua foram mortos na Ucrânia desde novembro do ano passado.  Essa medida fez parte de um pacote de preparação para um evento esportivo, a Eurocopa 2012. As ultimas informações são de que o governo “cedeu” às pressões internacionais de defensores dos animais e parou a matança. Para um bom observador, imagina-se que dentro de algum tempo ocorrerá um pedido formal de desculpas.

Diante dos fatos, é preciso destacar dois pontos: Primeiro, pedir desculpas, considerando que virá de um órgão burocrático de Estado preocupado em manter uma boa relação com os súditos por interesses de poder, não é nenhuma garantia de que estarão, de fato, arrependidos pelo que fizeram.  Além disso, um pedido de desculpas não mudará em nada o que aconteceu com a vida desses animais. A matança ocorreu dentro de uma lógica especista, em que esses animais não são “sujeitos de uma vida”, ou seja, não se faz a pergunta: “Será que eles se importam em morrer?”.  A única coisa a qual se importam é que a cidade deve estar limpa e que cause uma boa impressão para o megaevento acontecer. A ordem da higienização, que arrasta moradias populares por todo o mundo, também põe no saco os cachorros.

Mas a desculpa pode, no entanto, criar um chão para a memória e, portanto, ser invocada quando situações semelhantes ocorrerem novamente, para justamente buscar uma nova ação. É um argumento moral que todos nós praticamos em diferentes situações.  E é simplesmente por isso que as “desculpas oficiais” sempre demoram a aparecer. Há uma vulnerabilidade implícita quando pronunciamos essa palavra. Logo, não é difícil entender porque, por exemplo, a Igreja Católica demorou 500 anos para pedir perdão ao que fizeram com os primeiros habitantes do Brasil.

Os defensores dos animais pressionaram. Segundo ponto. Aqui temos um problema e também uma breve oportunidade.  Quando se fala em cães e gatos, o número de “defensores dos animais” se multiplica em grandes proporções. Surge uma massa preocupada, com estratégias, bons slogans e com tempo livre para militar a favor desses animais.  Eles recebem a nomeação de “defensores” e estão dispostos a ir onde for para que o direito desses se faça valer. Porém, não estão dispostos a enxergar que existe uma identidade básica para proporcionar os mesmos direitos e o mesmo respeito a todos os outros.

É claro, cães e gatos vivem conosco, estão próximos, fazem parte do lar e em ultima análise, tornam-se nossos familiares. Dar o mesmo status moral a animais que estão vivendo em florestas ou sendo os subprodutos de indústrias (alimentação, couro, vivisecção, entretenimento) pode ser mesmo um caminho mais difícil. Mas ao mesmo tempo é muito simples: Há alguém ali por trás daqueles olhos. Um ser consciente de que está no mundo, consciente de que o mundo o comporta e de que o maior bem a zelar é sua própria vida. Se enxergastes no seu animal doméstico, então é possível expandir a consciência para os outros e ter a mesma certeza de quando um gato dorme no seu colo, que todos devem ter seus direitos assegurados.  Leia-se: direitos à vida, à liberdade e à integridade física.  

Quando eu falei em “breve oportunidade”, fiz referência que em certos contextos existem possibilidades enormes de mudança de percepção. (Os textos aqui escritos podem encontrar diferentes sujeitos, em variados estágios e com vivências diversas. Para alguns, comparar animais domésticos e selvagens, no que tange aos direitos, é algo que já foi há muito tempo entendido e interiorizado. Para outros, ainda poderá ser motivo de estranhamento. Mas para todos nós, é hora de exercitar a nossa responsabilidade). Esse, claramente é um deles.  Se mais de 60 mil animais que não fizeram nenhuma ação além de se encontrarem vivos em uma cidade estão  agora numa cova comum, num saco de lixo ou amontoados em algum lugar longe da pólis, e você está preocupado com os resultados das partidas de um grupo de milionários com chuteiras, algo pode estar muito errado. Mas a hora de se posicionar em outro campo bate em seus olhos.


R.I.P – Zé Claudio & Maria do Espírito Santo da Silva

24 de maio de 2011
Descansem em paz!

“É um desastre para quem vive do extrativismo como eu, que sou castanheiro desde os 7 anos de idade, vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça à qualquer hora. Porque eu vou pra cima, eu denuncio os madeireiros, os carvoeiros, e por isso eles acham que eu não posso existir. A mesma coisa que fizeram no Acre, com o Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeramcom a Irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui, conversando com vocês, daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci. Me pergunto: Tenho medo? Tenho. Sou ser humano, tenho medo. Mas o meu medo não empata de eu ficar calado, enquanto eu tiver força para andar, eu estarei denunciando todos aqueles que prejudicam a floresta.”

Ele e sua esposa viviam da colheita de castanhas da floresta, em assentamentos de extrativismo sustentável. Ambos lideravam a associação de camponeses da região, e já haviam recebido diversas ameaças de morte dos madeireiros, sem nunca terem obtido proteção policial.  – link noticia – 

Como é dificil ter que encarar a realidade da ditadura dos interesses econômicos. Nos matamos e matamos nosso meio ambiente, é isso.

“Tudo em nome do “se dar bem”. Tudo em nome do “ah, eu sou o empresário fulano de tal”; “eu exportei 100m3 de madeira pros Estados Unidos, pro Japão, não sei pra onde”; “eu tive um lucro de tanto esse ano”. Às custas da floresta, de algo que ele não plantou, de algo que ele não gastou um centavo para fazer.”  Zé Claudio

Assista a palestra dele no ano passado. Vale muito a pena.
[link entrevista]